Um novo estudo que busca avaliar os possíveis impactos das mudanças climáticas foi publicado no último dia 18, no periódico Nature Communications. Conduzido por uma equipe de pesquisadores internacionais, o documento aponta uma perspectiva bastante preocupante para o continente antártico – e que pode afetar outras regiões do planeta.
Para chegar a esse resultado, estudiosos se dedicaram a perfurar a superfície abaixo do mar na Antártida, e avaliar as diferentes camadas de sedimentos encontradas nas amostras. Esse procedimento possibilitou entender melhor como determinados fenômenos ocorridos no continente teriam se originado em dois períodos, ocorridos 3 e 15 milhões de anos atrás.
Pesquisadores avaliaram amostras de sedimentos localizadas cerca de 100 metros no fundo do mar. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Estudo alerta sobre riscos de novos deslizamentos de terra submarinos na Antártida
Por meio de uma análise multidisciplinar, foi possível identificar que os padrões de variações glaciais e de redução da camada de gelo estariam relacionados ao acúmulo de sedimentos formados por materiais fossilizados. Por constituírem camadas mais frágeis, regiões com esse padrão seriam mais suscetíveis a ação de terremotos no continente antártico.
Historicamente, a desintegração desses sedimentos, quando provocada por abalos sísmicos, gerou tsunamis que atingiram regiões da América do Sul, Oceania e sudeste asiático. Ainda segundo o estudo, isso teria ocorrido nos dois períodos estudados.
Em ambos, a temperatura se apresentava 3 °C acima da média atual e o nível do mar também estava num patamar mais elevado, como resultado do derretimento do gelo. Com isso, existe a possibilidade que esses eventos voltem a se repetir se essa antiga dinâmica se tornar presente, destacou Jenny Gales, da Universidade de Plymouth, em comunicado oficial.
Ou seja, à medida que as mudanças climáticas provocam o aumento do nível do mar, aumenta também o risco de formação de tsunamis violentos, como desdobramento de eventuais terremotos.
Segundo estudo, deslizamentos de porções de terras subaquáticas provocariam novos tsunamis. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Mudanças climáticas podem afetar a estabilidade da Antártida
O estudo ainda alerta que, com a redução das camadas de gelo, haveria um alívio na pressão exercida sobre as placas tectônicas – o que pode reduzir a estabilidade do continente antártico.
Vale lembrar que, em 13 de fevereiro deste ano, a Antártida apresentou o menor nível de gelo já registrado, com índice de 1,91 milhão de quilômetros quadrados. Esse valor é inferior ao apresentado em 25 de fevereiro de 2022, de 1,92 milhão de quilômetros quadrados.
Incidentes provocados por deslizamentos submarinos, por sua vez, também ocorreram em períodos mais recentes: como desdobramento do terremoto de Grand Banks, no Canadá, um deles deu origem a um tsunami violento em 1929. Na ocasião, as ondas atingiram os 13 metros de altura, deixando vítimas fatais e danificando cabos submarinos.
Por apresentar uma perspectiva inserida num contexto de mudança climática, o estudo se mostra importante para auxiliar na previsão de fenômenos, além de permitir uma melhor compreensão de como se dariam as dinâmicas num continente que não é povoado.