

Cientistas do Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati, Estados Unidos, descobriram que, assim como as mães, os pais também são capazes de doar DNA mitocondrial para os filhos. A pesquisa, considerada “inovadora” pelos estudiosos, trouxe uma conclusão revolucionária e surge como uma grande contribuição a campos inéditos da Ciência, possibilitando a procura das causas de novas doenças e condições hereditárias.
A pesquisa contou com a participação de 17 voluntários de famílias não relacionadas, que entregaram amostras de seus materiais genéticos para serem analisados em vários laboratórios. Utilizando uma moderna tecnologia de sequenciamento de DNA, o pediatra Taosheng Huang verificou conclusivamente a presença de DNA mitocondrial herdado dos pais em alguns dos pacientes, integrado a um conjunto dividido em duas partes; uma para cada parente direto.
Entenda o estudo
O maior destaque fez referência a três famílias que apresentavam padrões semelhantes da herança. A pesquisa indicou que apenas alguns membros desses grupos foram afetados, significando uma transmissão de forma esperada para certos integrantes e a “quebra das regras biológicas da paternidade” em outros. Curiosamente, as informações genéticas oriundas dos pais, em alguns desses casos, foram carregadas com as contrapartes maternas durante a fertilização, ocasionando mitocôndrias híbridas de forma indireta.
Como resultado, esses pais foram capazes de transferir o material misto para os filhos, em um clássico caso de variação dominante onde sua existência em apenas um dos parentes seria suficiente para ser manifestada na prole. Dessa forma, a condição foi classificada definitivamente como um traço genético, apesar de ser um evento incomum supostamente causado por uma mutação codificada no núcleo desorganizado da mitocôndria.
(Fonte: Instituto Nacional de Saúde da Criança e Desenvolvimento / Reprodução)
Segundo Florence Marlow, bióloga da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, a anomalia pode estar na etapa em que as mitocôndrias do esperma são normalmente “agendadas” para a morte. Caso essa etapa venha a ser saltada, o óvulo fertilizado torna-se incapaz de identificar e eliminar os intrusos paternos, que ganham um sinal verde para prosseguir caminho ao lado do material materno. Porém, até o momento, não há conclusões sobre como essa herança ocorre.
Herança materna do DNA mitocondrial como regra
Em quase todos os animais conhecidos, o DNA mitocondrial é herdado exclusivamente da mãe. Especialmente em humanos, o processo evolui para facilitar a coordenação dos genomas no núcleo e nas mitocôndrias, já que possuir um único resíduo da organela possibilitaria o funcionamento celular adequado e evitaria que houvesse falhas na comunicação entre as matérias-primas.
Por outro lado, acredita-se que as mitocôndrias do esperma experimentam taxas mais altas de mutação que as dos óvulos, tornando-as objetos invasores que poderiam prejudicar a fertilização. Assim, o corpo humano condicionou um verdadeiro sistema molecular a garantir que nenhuma contribuição paterna indesejada avance no processo, eliminando-a antes mesmo do início da fecundação ou reduzindo substancialmente sua vida à medida que os espermatozoides se desenvolvem.
“Esses resultados vão mudar a maneira como descrevemos a herança mitocondrial”, conclui Sophie Breton, geneticista mitocondrial da Universidade de Montreal. “Tenho 100% de certeza de que encontraremos mais casos como esses no futuro.”