Como a nossa língua influencia na percepção do tempo

Como a nossa língua influencia na percepção do tempo

Você já parou para refletir sobre como você pensa no tempo? Se você tivesse que definir um sentido para o futuro, você diria que ele corre para a esquerda ou para a direita? Ou ainda, você diria que ele se desloca de cima para baixo ou de baixo para cima?

Podem parecer perguntas simples ou sem muito sentido, mas o que realmente importa é o que a resposta diz sobre como você pensa. E essa resposta está diretamente relacionada à língua que você fala.

Pensando sobre o futuro 

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

Segundo o psicólogo cognitivo Daniel Casasanto, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, atualmente é um consenso entre os especialistas em linguística e neurociência, que a maneira como nós pensamos no tempo está relacionada com a nossa língua.

Isso acontece porque o nosso idioma influencia na maneira como nós pensamos. Ele não é o único fator, como Casasanto lembra — bebês pensam antes de aprender a falar, por exemplo —, mas certamente é decisivo em algumas situações.

Um exemplo clássico e bem conhecido disso, está na maneira como falantes de alguns idiomas, como o inglês ou o português, pensam no tempo como uma linha horizontal. Se alguém te mostrar um conjunto de fotos e pedir para colocá-las em ordem cronológica, você provavelmente vai alinhá-las na horizontal e da esquerda para a direita. Isso acontece porque nós fomos alfabetizados para escrever e ler dessa maneira, portanto, é assim que o nosso cérebro pensa em progressão e, consequentemente, no futuro.

Mas quando é solicitado para que algum falante de hebraico faça a mesma atividade, essa pessoa provavelmente irá colocar as fotos da direita para a esquerda, pois é assim que ela lê e escreve. E se você pedir para uma pessoa alfabetizada em mandarim, as imagens serão colocadas de cima para baixo — para eles, a palavra xià (“baixo”) é usada para expressar o futuro e uma frase como “a próxima semana” é dita, literalmente, como “a semana para baixo”.

Outra influência na maneira como pensamos no tempo está relacionada à sua representação espacial. Para falantes de idiomas como o português, o francês, o inglês ou o alemão, é comum pensar no tempo como algo curto ou longo. Nós podemos assistir uma longa palestra ou passar um curto período no bar.

Porém, para os gregos, essa representação é tridimensional. Isso significa que eles têm uma grande palestra ou um pequeno tempo no bar. E o mesmo vale para os falantes de espanhol.

Uma questão relativamente complexa

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Uma das possíveis consequências de toda essa questão pode estar na física. Casasanto lembra que uma parte significativa dos físicos teóricos trabalharam com modelos que consideram o tempo como uma seta. O quão diferente seria a nossa compreensão de tempo e espaço, se cientistas de outros países tivessem trabalhado nas principais teorias da física?

Pensar no tempo como uma linha reta, significa que ele avança unidimensionalmente, e que um ponto jamais poderá tocar em outro. Mas, ao pensar no tempo de modo tridimensional — como fazem os gregos e espanhóis —, cada ponto está “flutuando” e é capaz de se aproximar ou tocar outros pontos.

É o que Einstein propôs na teoria da relatividade geral. O físico alemão utilizou um conceito que, na época, era inusitada para se pensar o tempo. Era como se o passado, presente e futuro pudessem coexistir simultaneamente e cada um dos pontos estivesse flutuando em uma garrafa.

Isso significa que pensar o tempo como uma linha, pode ter afetado e, de certo modo, até mesmo atrasado a nossa compreensão de alguns conceitos físicos. É algo semelhante ao que é apresentado no filme A Chegada. E isso significa que compreender uma nova língua, pode fazer com que nós encaremos o tempo de outra maneira.