Cinzas de líderes maias podem ter se transformado em bolas esportivas

Cinzas de líderes maias podem ter se transformado em bolas esportivas

Pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História do México lançaram uma hipótese interessante sobre a tradição funerária dos antigos povos maias. Vestígios identificados no sítio arqueológico de Toniná, no sul do país, sugerem que rituais estimulavam a transformação das cinzas de importantes governantes em bolas esportivas, a fim de preservar o legado e converter a matéria orgânica em uma espécie de “força vital”.

Os primeiros achados na zona arqueológica ocorreram em 2020, quando Juan Yadeun Angulo, líder do projeto, encontrou uma cripta de 1.300 anos sob uma pequena pirâmide chamada Templo do Sol. Nela, cerca de 400 urnas cheias de cinzas humanas, carvão, borracha e raízes de plantas estavam enterradas próximas de uma suposta quadra de futebol, onde detalhes entalhados em esculturas faziam menção a um governante chamado Wak Chan Káhk e a uma mulher chamada Lady Káwiil Kaan.

Agora, pouco mais de dois anos após as primeiras investigações, conclusões determinaram que ambas as figuras morreram entre os anos de 722 e 755 d.C., sendo levadas ao templo para sofrerem um processo de “transmutação”. Segundo a teoria sustentada pelos pesquisadores, seus restos mortais foram transformados em bolas para que membros da sociedade maia jogassem uma modalidade conhecida como “pelota”. Esse esporte era tradicional na Mesoamérica há milhares de anos e se baseava em uma atividade coletiva.

(Fonte: Alamy / Reprodução)(Fonte: Alamy / Reprodução)

Angulo acredita que a união de substâncias orgânicas com cinzas de líderes era aplicada para desenvolver uma “força vital” capaz de estimular o povo a realizar grandes feitos. “Assim como os egípcios tentaram preservar [corpos], sabemos que aqui eles foram transformados de outra maneira”, esclarece o arqueólogo. De acordo com um artefato encontrado no local, os globos eram quase do tamanho de uma criança adolescente. Além disso, outro item mostra cativos dentro de bolas de borracha sendo jogadas por um homem ricamente trajado.

O que os estudiosos pensam?

Fontes do Live Science afirmaram que os estudos fazem menções plausíveis a uma antiga prática realizada pela sociedade maia. William Duncan, professor de antropologia biológica da East Tennessee State University, diz que restos humanos foram usados em “uma variedade incrivelmente ampla de contextos” por membros da civilização pré-colombiana. Essa questão seria reforçada pela história da “pelota”, que acredita-se ter um valor simbólico e espiritual representando o movimento do próprio Sol.

(Fonte: Imagining History / Reprodução)(Fonte: Imagining History / Reprodução)

Rituais mortuários complexos e documentados sobre essa sociedade sugerem que o “futebol maia” serviu como um cenário para batalhas mitológicas entre as forças da vida e as forças da morte. Na época, governantes se vestiam como deuses e se equipavam com proteção para fazer valer suas intenções de vitória. Porém, apesar da narrativa, ainda há certo ceticismo sobre a relação da prática com os restos mortais de grandes líderes.

Susan Gillespie, da Universidade da Flórida, e James Fitzsimmons, do Middlebury College, acreditam não haver nenhuma menção sobre a eternização das cinzas de governantes. Exigindo informações mais conclusivas, eles indicam que seria mais fácil transformar restos de  prisioneiros de guerra, visto a natureza agressiva da atividade — metaforicamente falando — e a conversão de cinzas em um material que pouco tinha utilidade como reflexo de status de nobreza.