Brasil vive momento histórico: maior êxodo de jovens para o exterior

Brasil vive momento histórico: maior êxodo de jovens para o exterior

Em pleno 2022, crise econômica, mais oportunidades de empregos e condições de vida são os velhos e novos objetivos que ainda perseguem os brasileiros nessa verdadeira diáspora que assombra a história do país desde meados do século XX.

O senso de 1990 dos Estados Unidos detectou cerca de 95 mil brasileiros que residiam em território naquela época – um dado ingênuo, claro, visto que não foi contabilizado a onda de imigrantes ilegais iniciada no final da década de 1980, no pior estilo da personagem Sol, da telenovela de Glória Perez, América, sucesso de 2005. A jovem, como muitos estrangeiros, especificamente latino-americanos, tinham o sonho de “fazer a América”, motivados pelo próprio sonho americano de uma vida melhor na “terra da oportunidade”, que ofuscava em meio ao caos político e socioeconômico de sua terra natal.

E isso não diminuiu com o passar do tempo, muito pelo contrário, um levantamento feito em 2020 pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), indicou que o Brasil vive o maior êxodo de sua história.

Um fenômeno antigo

(Fonte: Uol/Reprodução)(Fonte: Uol/Reprodução)

No final do século passado, a massa de pessoas que emigraram do Brasil foi, em sua maioria, motivada pelas sucessivas crises econômicas, claro, mas também pelo número desenfreado de desempregos causado pelo processo intenso de globalização e de novas tecnologias que dizimaram profissões inteiras ou substituíram postos de trabalho.

O MRE divulgou que o número de brasileiros vivendo fora do país aumentou de 1.898.762 em 2012 para 4.215.800 em 2020, mostrando um aumento de 122%, o que pode dizer que cerca de 2% dos brasileiros moram em um país estrangeiro atualmente. E os números batem com as maiores queixas e justificativas para abandono pátrio: desigualdade, violência de todas as formas, precarização da economia, desemprego estrutural e política controversa.

Um levantamento da LCA Consultores, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, o número de trabalhadores com carteira assinada diminuiu em 2,8 milhões entre 2014 e 2022, enquanto o setor por conta própria ou sem registro aumentou em 6,3 milhões em 8 anos.

(Fonte: Poder360/Reprodução)(Fonte: Poder360/Reprodução)

Para Bruno Imaizumi, autor do levantamento, é um movimento de precarização do mercado de trabalho, que reflete as várias crises econômicas nos últimos anos, como também transformações tecnológicas e estruturais do mercado de trabalho.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou que 47.503 mil homicídios aconteceram ao longo do último ano, o equivalente a 130 mortes por dia, colocando a Bahia no topo do ranking dos estados mais perigosos do país. Ele registrou 1,3 mil assassinatos nos três primeiros meses de 2022.

Quem vai embora

(Fonte: Engenharia 360/Reprodução)(Fonte: Engenharia 360/Reprodução)

Ano passado, o Brasil atingiu um marco simbólico pela primeira vez: em quase duas décadas que o número de jovens entre 15 e 29 anos não chegara à marca de 50 milhões, como indicou os dados do IBGE. A última vez que isso aconteceu foi em 2002, depois em meados da década de 2010.

Estima-se que nos próximos 40 anos, o número de jovens caia para 1/4, e fique pela metade até o fim do século. E isso é considerado um problemas pelos economistas e estatísticos, visto que é a população jovem que movimentará o país economicamente, já que os idosos, em geral, não são muito ativos em termos de economia. 

São em períodos com muitos jovens que países possuem maiores oportunidades para crescer, e o Brasil está cada vez mais perdendo essa chance em meio ao caos econômico e político que se arrasta por 7 anos, e piorado nos últimos 3 anos.

(Fonte: Blog Unis/Reprodução)(Fonte: Blog Unis/Reprodução)

Em 2018, o Instituto Datafolha indicou que 70 milhões de brasileiros maiores de 16 anos se mudariam para o exterior, se pudessem. O fenômeno se mostra ainda mais impressionante quando contrastado com dados passados, como feito pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, mostrando que em 2005 e 2010, essa era a vontade de apenas 26,7% dos jovens; e em 2011 a 2014, anseio de 20,1%.

Atualmente, as perspectivas para os jovens não andam as maiores, justificando o desejo quase geral de mudança. A taxa de desemprego da população de 18 a 24 anos bateu 22,8% no primeiro trimestre de 2022, mostrando um alcance negativo histórico. A falta de oportunidade no Brasil e alta demanda lá fora é o que motiva o debande, e isso não tem a ver só com um salário maior, mas sim com índices menores de desigualdade.

Para o sociólogo Rogério Baptistini Mendes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o momento indica uma virada de maré na história do Brasil, que antes ganhou fama por ser lar dos imigrantes, hoje se tornou um “exportador de gente”, passando a ser um lugar de onde as pessoas saem.